Oitavo dia - 28/11

Como sempre, para não fugir à regra, tudo que é bom acaba. Com uma certa tristeza no coração, agora não era mais o desconhecido que nos aguardava após a linha do horizonte, mas sim, a rotina de cada um estava lá, do outro lado da linha, de braços abertos, aguardando. Mas a rotina também tem o lado bom, uma vez que fazem parte dela todos os que amamos, nossos filhos, esposas, amigos, companheiros de trabalho...

Malas prontas, dinheiro já escasso, (pelo menos pra mim), muitas saudades de tudo e de todos, parecia mais que já se passava 01 mês, e não 01 semana. Em determinado momento, num posto para reabastecimento, lembro-me do CADU ter comentado: “ Que maravilha de viagem... Ainda bem que tudo deu certo para nós todos, nenhum acidente, nenhum defeito nas motos...” Imediatamente eu disse que ainda faltavam muitos km pela frente, para não relaxarmos na atenção em função de já estarmos nos sentindo em casa...

Saímos de Camaquã RS debaixo de chuva média, depois foi melhorando. Já perto de Porto Alegre o tempo melhorou bastante.

Resolvemos ir pela BR101 evitando a Estrada do Mar, por achar que o transito não estaria complicado e renderia mais. Bom, nos enganamos, pois as reformas da duplicação só atrapalharam e ainda pregaram uma triste peça.

Um pouco adiante, o pior momento da viagem... Parece que um filme passou diante de mim, quando fiz aquela inesquecível curva, e ao longo da reta vi uma moto tombada, um corpo estendido na beira do asfalto e semblantes preocupados... Não me interessava saber quem havia se acidentado. Apenas não quis aceitar aquela situação, tendo em vista a perfeição que foi nossa viagem até aquele momento. Na hora me veio na mente que quem poderia estar ali, naquela situação, era eu mesmo...

Me acalmei quando vi movimento do meu amigo caído... Deus estava conosco naquele momento. Protegeu à ele e á todos nós, impedindo que algum caminhão desavisado acabasse por piorar a situação já crítica. Naquele momento senti o quão pequenos e dependentes de Deus nós somos... Antes MOTOQUEIROS SELVAGENS cheios de coragem e espírito aventureiro, agora, olhos lacrimejantes e preocupação com o amigo que havíamos conhecido à poucos dias, mas que já parecia alguém de nossa própria família...

Situação controlada, ambulância e polícia acionados, seguimos viagem para cidade mais próxima em condições de atender nosso irmão.

Havíamos nos preparado para uma situação como esta. Caso isto ou algo semelhante viesse à acontecer, havíamos combinado de por o companheiro em segurança e somente após isto, seguir viagem. Era o combinado. Mas esta turma é especial. Ninguém haveria de permanecer tranqüilo sabendo que um de nós havia ficado só. Foi quando de maneira firme, decisiva, o ANDRÉ se prontificou a acompanhar o RIBEIRO até que o mesmo estivesse 100% encaminhado pelos médicos. Para isso teria que pernoitar em TORRES. Lamentamos pelo RIBEIRO , mas sinceramente, creio que o sentimento foi ÚNICO, de total SEGURANÇA, quando ele, ANDRÉ, o mais experiente da turma, se prontificou a ficar por lá... EM NOME DE TODOS , ANDRÉ, quero aproveitar este espaço e agradecer a você, e dizer que vc é o PAIZÃO desta turma. No mais, cabo enrolado até Balneário Camboriú, onde acomodamos CADU e DF num hotel, de onde seguiriam no dia seguinte, e eu PIETRO e WANDREI seguimos à Blumenau, cansados, mas satisfeitos completamente...

As amizades antes semeadas no BOG, foram regadas e adubadas com este viagem maravilhosa. São todos meus irmãos ! (by Dion)